Por: CARLOS ROSA MOREIRA - 04/03/2025 17:16:25

MOMENTO

Já rodei a casa toda. Tomei café, bebi água, liguei computador e fiquei na janela.

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Faz um dia lindo, tem até um ventinho para espantar o calor. Mas a minha vida é triste neste momento, triste e só ou triste porque é só. Ligo o aparelho de som, escolho um CD. A voz cristalina de Elis toma a casa e parece brincar com o ventinho refrescant

O piano do Tom, no intervalo das estrofes, me faz imaginar um casal a passear de mãos dadas. Somos nós naqueles anos tão passados. Queríamos ir à Provence, conhecer os villages, admirar o Monte Sainte Victoire e olhar os campos de lavanda tentando fazer olhos de Cézanne.

Engraçado... Imaginar a sua felicidade tirou-me da tristeza. Vejo-a sorrir nesse sonhado sul da França e esqueço que talvez estivesse com o piemontês a tiracolo. Não importa, é bom lembrar o seu sorriso com esse jeito de levar as duas mãos à boca como se quisesse comprimir a emoção. Se foi à Provence, acredito que se lembrou de mim. É bom acreditar-se lembrado num momento de solidão e tristeza. Tenho vontade de dormir e sonhar com você, mas você já me fez bem, afastou um pouco essa melancolia enjoada. Sinto-me mais leve e penso em caminhar. Preferia que fosse sob o sol manso da Provence, mas será aqui mesmo, debaixo desse furibundo sol do verão brasileiro, que irá queimar minha pele e talvez transformar em cinzas a tristeza que faltou você espantar.

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